Reconquista: Paliativos – A médica que inspira os outros falando da morte

Em 2012 pegou no microfone e subiu ao palco de uma conferência em São Paulo para falar de um tema de que muitos não querem ouvir falar.

Mas Ana Cláudia Quintana Arantes não só pôs a morte no centro daqueles 18 minutos como inspirou muita gente.

O vídeo em que explica por que razão a morte é um dia que vale a pena viver tem até ao momento mais de 1,7 milhões de visualizações no Youtube e deu origem a um livro que vai na sétima edição.

A médica brasileira, especializada em geriatria e cuidados paliativos, atravessou o Atlântico e está a visitar seis cidades portuguesas para falar da sua experiência.

Castelo Branco, onde a Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias foi pioneira nesta formação, foi a única que mereceu um desvio do litoral.

O auditório da escola encheu-se com profissionais de saúde mas também gente de outras áreas.

O livro que escreveu dirige-se a todos e quer desbloquear o medo de falar da morte. “Essa coragem de falar sobre a morte trás para todo o mundo a possibilidade de coragem para viver uma vida muito boa, com sentido e com valor”, disse a autora ao Reconquista.

Mesmo as pessoas preparadas para morrer “não estão preparadas para sofrer nem fazer alguém sofrer por causa da perda que vai acontecer com todos nós. E é importante que se fale sobre isso para que a gente possa trilhar um caminho mais luminoso nesta fase difícil”.

E ao contrário do que muitos pensam o cuidado paliativo “não está direcionado apenas para as pessoas moribundas mas em todas as situações em que haja sofrimento e esse acontece em toda uma doença grave”.

Para Ana Cláudia Quintana Arantes há uma luta diária “para vencer o preconceito e poder levar esse conhecimento ao maior número de profissionais de saúde”.

As soluções vão para além dos governos e começam logo na maneira como é encarada a morte.

A médica diz que a morte “foi sequestrada pela medicina, pela ciência e pelos hospitais e nós precisamos de devolver a morte para a humanidade e todas as pessoas devem-se envolver nesse processo”.

O isolamento, o medo e a vergonha “é um perigo” e na sua opinião o pedir ajuda a um profissional de cuidados paliativos não é desistir de viver mas encontrar sentido para um final de vida, não deixando o sofrimento tomar conta do corpo.

“A vida começa quando você encontra um profissional de saúde que se responsabilizada no seu trabalho para te fazer feliz”, diz. Mas o alívio não é dado apenas pela medicina mas também envolve a dimensão emocional, que não deve ser esquecida.

“O ser humano é um ser em busca de sentido essencialmente, independente da sua crença religiosa. A espiritualidade tem uma força muito potente nesta fase da vida”.

A digressão que está a fazer por Portugal não é um primeiro olhar sobre a realidade do país nos cuidados paliativos.

A médica tem acompanhado à distância o que se vai fazendo por cá e pelo resto do mundo.

Os cuidados paliativos são uma família “que tem membros no mundo interior e nós nos acompanhamos”. Uma das ambições do livro é indicar às pessoas que não são da área da saúde o caminho para que saibam o que dizer ou fazer.

“Quando você está no deserto qualquer copo de águia é bem-vindo”, justifica.

Ana Cláudia Quintana Arantes é formada pela Universidade de São Paulo com residência em Geriatria e Gerontologia no Hospital das Clínicas da Faculdade Médica da Universidade de São Paulo.

Fez uma pós graduação em Psicologia – Intervenções em Luto pelo Instituto 4 Estações de Psicologia e uma especialização em Cuidados Paliativos, pelo Instituto Pallium e pela Universidade de Oxford.

É sócia fundadora da Associação Casa do Cuidar e atualmente dá aulas na The School of Life e na Casa do Saber.

Fonte: Jornal Reconquista, Reportagem de José Furtado.

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